O Novo Enem
O fato alarmante é a proposta de unificação dos processos seletivos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). Efetivamente, a criação de uma prova única – o novo Enem –, que serviria como avaliação para o acesso à universidade.
Segundo o documento que contém a proposta, a ideia é permitir às 55 Ifes potenciais ganhos de um processo unificado de seleção e a possibilidade concreta de que a nova prova única “acene para a reestruração de currículos no ensino médio”.
Isso traz a quem está na “
trilha” perturbações, porque o ano letivo já teve início e as projeções também, uma vez que os alunos começaram o
2009 com a programação de aulas, escolha do curso superior, já realizada pela maioria dos estudantes, além de inscrições nos concursos vestibulares e na prova do Enem, que é uma testagem relevante.
Nascido em 1998, sob a tutela do presidente Fernando Henrique e de seu ministro, atual secretário da educação de São Paulo, Paulo Renato Souza, o Enem preconizava a mudança gradativa, por habilidades e competências, das orientações curriculares de todo o ensino médio. A prova mostrou, por meio das suas 63 questões, o uso prático das 21 habilidades que poderiam servir como modelo para as universidades e em consequência para as secretarias de educação dos estados. Porém, isso não aconteceu. A adesão existiu, todavia, em tímida escala.
O documento entregue à Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Supeiro (Andifes) apresenta isso, pois deixa bem claro que as universidades, mesmo não querendo, pautam o ensino médio brasileiro. O que é lógico, uma vez que o estudante, além da propalada “preparação para vida”, precisa também de orientação para o vestibular. Não há vagas públicas para todos e obviamente os melhor preparados tendem a conquistá-las.
O Enem sobreviveu à gestão de Cristovam Buarque, no início do governo Luis, à de Tarso Genro, mais adiante, e agora convive com Fernando Haddad, no segundo mandato do presidente de honra do PT. Nesse período, a prova mudou pouco, embora se tenha percebido em 2007 uma facilidade enorme, o que proporcionou aumento geral de notas. O reverso da moeda se deu em 2008, com um exame mais equilibrado na área de exatas e equívocos nas ciências humanas. Conclusão: notas mais baixas.
E agora fala-se no novo Enem, misterioso e desafiador. O primeiro termo, o do mistério se deve a ausência, proposital ou não, de esclarecimentos práticos para os estudantes. Serão 200 questões em dois dias. Quais dias? Sábado e domingo? Se for assim, uma questão delicada paira no ar e precisa de resolução. E os adventistas, que por força da compreensão religiosa não atuam em quaisquer atividades com a luz do sol do sétimo dia? É o caso de se pensar em uma prova especial. Todavia, o que incomoda mesmo é entender que estudantes, hoje mais de 8 milhões concluindo o ensino médio, sem mencionar a porcentagem egressos, submeter-se-ão a dois dias de prova e a 200 questões. Linguagens, códigos e suas tecnologias: 50 questões, possivelmente envolvendo Língua Portuguesa, Literatura e Língua Estrangeira Moderna – Inglês é o que está na proposta. O estudante poderá optar pelo Espanhol? Na seqüência surgem as Ciências Humanas e as suas tecnologias, com
História, Geografia e só. Ou necessariamente as valorosas Filosofia e Sociologia serão abordadas? Se essas disciplinas não constarem da prova, o retrocesso será grande e o descumprimento à própria legislação do MEC também. Outro “buraco negro”! Em tempo, vale ressaltar a existência de uma redação, registrada no texto do INEP/MEC, para o primeiro dia. Algo muito especial! Viva o uso de água mineral!
No segundo e último dia, 50 questões para as Ciências da Natureza e as suas tecnologias, certamente Biologia e Química e o final de tudo com a Matemática e as suas tecnologias, apresentando provavelmente a Matemática que pode vir solitária ou acompanhada da Física, que também é
Ciência da Natureza. Quantas surpresas! Pensando na maior delas, pergunto: qual será o tempo dos estudantes para a execução de tais provas? Se forem 5 horas de prova, teremos 3 minutos por questão, sem contar o tempo da “gabaritagem”. Se forem 6 horas, 3,6 minutos por questão, sem gabarito. Ler todo o enunciado, refletir e escolher
a,b,c,d,e em pouco mais do que três minutos. Muito esforço!
Com esse barulho, certamente o novo Enem será indiscutivelmente uma avaliação de esforço físico primorosa e declaradamente fadada a mudar no próximo governo, inclusive sob a batuta de um antigo maestro. Quem viver verá, até lá seguem as cobaias, melhor dizendo os alunos e o seu futuro.